Baixa-Chiado
Ao conceber a decoração destes espaços, Ângelo de Sousa parece questionar a própria necessidade de decorar os espaços, inscrevendo geometrias com curvaturas como de ferros de varandas, desenhando flores, colocando círculos e coroas circulares, repetindo temas como as duas barras simétricas com um semicírculo, figura de vaga evocação antropomórfica que parece mecanizar os voos dos múltiplos putti, tão utilizados na decoração do Barroco e do Naturalismo.
Ultrapassadas estas marcações decorativas, faz-se o acesso ao átrio central por profundas escadarias de perfil em abóbada e escala monumental, completamente cobertas por azulejos brancos, mas agora retangulares e bizelados como os do metropolitano de Paris, revestimento que reflete a intensidade de poderosos candeeiros verticais colocados no eixo dos espaços.
Fica logo definido nas escadarias a conceção espacial de todo o edifício, vãos monumentais de abóbadas abatidas, abatidas nos corredores de circulação pelos pontos de luz que desenham pelo teto virtuais arquivoltas, a laje do piso recuando em relação à parede, dando lugar a varandas e escadas de acesso para as plataformas.
A arquitetura é conduzida aos seus elementos estruturais, centrando-se num único tema, os grandes vãos em abóbada revestidos em azulejo branco, constante em todo o edifício, e na variação de escalas, atingindo nas grandes alas de circulação uma presença monumental que parece lembrar aos passageiros a sua reduzida dimensão e, mais do que uma arquitetura subterrânea, a estação Baixa-Chiado faz-nos pensar antes numa cidade subterrânea, aqui apenas enunciada na vastidão dos espaços e na articulação complexa dos percursos, necessária a uma estação onde se cruzam duas linhasco.
Arquitetura
Álvaro Siza Vieira, 1998
Arte
Ângelo de Sousa, 1998