Carnide
As varandas são lugares de observação de monumentais composições com tubos de néon que sem interrupção acendem gradativamente, primeiro as linhas a azul, depois a verde, vermelho e finalmente a amarelo, construindo formas de animais, anatomias simplificadas e movimentos ondulatórios. O uso dos movimentos das luzes pode ser uma citação literal do nome do lugar próximo – Luz – designação resultante, segundo a crença popular de um milagre, sentido atualizado por uma tecnologia idêntica à dos aparatos publicitários de grandes cidades e que transporta para o espaço interior um espetáculo de perceção repetitiva.
Inscritos nos azulejos do átrio, das escadas de acesso ao exterior, nos mosaicos das paredes de topo das mesmas escadas e no imenso paredão exterior à estação, José de Guimarães dispôs em condições soltas as suas personagens e sinais segundo um programa iconográfico que o próprio descreveu numa das paredes do átrio: A Vida e a Morte – Galeria das Caveiras, Galeria dos Feitiços, Galeria de Eros – As Grandes Viagens – Mual dos Oceanos e Mural dos Descobrimentos -, finalmente, A Criação do Mundo – Mural exterior no espaço envolvente da estação.
O autor cria pequenos episódios em manchas nunca superiores a 4 x 4 com personagens representadas em contornos nítidos e simples, preenchidos interiormente de cores lisas e fortes, com frequência sectorizando-as pelas diferentes partes orgânicas – pernas, cabeça, caveira, braços, seios, cabelos, línguas, serpentes, corações, olhos – e com esse léxico de símbolos primitivistas inventa situações que aludem à relação masculino/feminino, à morte e ao medo.
Arquitetura
Sérgio Gomes, 1997
Arte
José de Guimarães, 1997